Audiência pública debate utilização do arroz enriquecido no combate à fome oculta
A Frente Parlamentar da Bioeconomia e a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados promoveram audiência pública para discutir a utilização do arroz enriquecido como forma de combate à fome oculta. O fenômeno ocorre quando, mesmo se alimentando, a pessoa tem deficiência de vitaminas e minerais no corpo, provocando anemia. O encontro ocorreu em 30 de novembro.
A audiência foi requerida e presidida pelo presidente da Frente Parlamentar de Bioeconomia, deputado federal Evair de Mello. No Brasil 20,9% das crianças menores de 5 anos têm anemia e, considerando apenas o recorte de 6 a 23 meses, esse índice chega a 24,1%. O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil, de 2019, indicou que metade das crianças em idade pré-escolar (6 a 59 meses) e 2/3 mulheres não grávidas em idade reprodutiva (15 a 49 anos) apresentaram algum nível de deficiência de micronutrientes.
“Esse é um tema essencial que tem que estar presente no dia a dia do país, até porque nosso desafio é a cada dia alimentar mais gente com a capacidade de abastecimento reduzido no planeta”, comentou o deputado. “Vamos fazer o que nós pudermos para enriquecer o valor nutricional do arroz, principalmente olhando como efeito medicinal no enfrentamento de doenças, já que ele é um produto central na dieta dos brasileiros”, afirmou Evair.
Presidente executivo da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), Thiago Falda apresentou dados apontando que 58% da população brasileira, mais de 120 milhões de habitantes, sofrem algum nível de insegurança alimentar. Para ele, a proposta de ampliar o valor nutricional do arroz pode ser uma das soluções para mudar essa realidade. “Essa estratégia, reconhecida pela ONU e adotada em vários países, pode impulsionar o Brasil a atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável”, comentou Falda.
Ele também deixou sugestões aos parlamentares para viabilizar a estratégia, como a criação de um projeto de lei para que haja uma política mandatória para que o arroz comercializado no Brasil seja enriquecido com vitaminas e minerais e a priorização do arroz enriquecido nas compras públicas.
Representante do MDS, Bruna Arguelhes trouxe os dados sobre insegurança alimentar no Brasil, aspectos regionais da fome, desnutrição infantil e diretrizes do Plano Brasil Sem Fome. Já Beatriz Sartori, da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), mostrou dados da produção no país, que chega a 10,8 milhões de toneladas por ano, o que torna o o país o maior produtor de arroz mundial de acordo com os dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Para ela, o arroz enriquecido é uma alternativa à fome oculta, mas a suplementação não pode ter o caráter obrigatório, sob pena de elevar os custos e diminuir o consumo do produto.
Último expositor a falar, o representante da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), José Carlos Pires, trouxe a experiência do estado na produção e como foi possível elevar o produto à qualidade atual, posicionando o arroz nacional à frente de outros mercados produtores, como o México.